IMD e TST apostam em UX para transformação digital do serviço público

Residência em TI foca no usuário e cria sistema para advogados. Ações inovam processos do Tribunal
05-07-2023 / ASCOM
TI Residência

Além da criação de novas soluções tecnológicas, a Residência em Tecnologia da Informação do Instituto Metrópole Digital (IMD/UFRN) tem proporcionado uma onda de inovação para os órgãos parceiros nos quais suas turmas atuam. É o caso, por exemplo, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que nos últimos meses tem acompanhado a implantação de uma série de iniciativas, concretizadas, dentre outros resultados, por um sistema inédito para advogados de todo o Brasil.

Nomeado Potius, o sistema foi concebido para possibilitar que profissionais da advocacia acompanhem, a distância, sessões de julgamento do TST em tempo real. Entre suas funcionalidades, a ferramenta permite ao usuário ter acesso a informações de ordenação, pedidos de preferência e de status, além da opção de favoritar processos para acompanhamento dinâmico.

Mas o novo software é apenas uma demonstração da inovação que tem acontecido no Tribunal Superior. Toda a produção tem sido sustentada especialmente pela aplicação dos conceitos de User Experience (UX), termo que designa a priorização de uma boa experiência de usuário em detrimento de toda a complexidade de um determinado aparato tecnológico.

Na prática, a iniciativa contempla uma série de condutas que buscam não apenas facilitar o manuseio de um sistema, mas escutar atentamente os indivíduos antes mesmo da própria criação da solução. O que não é tarefa simples.

“De modo geral, os sistemas nascem nas instituições e trazem consigo percepções e preocupações do público interno. Mas o que essa residência tem feito é justamente pensar na experiência do usuário como fator para repensarmos nossos processos”, comenta Fabiano Lima, secretário de tecnologia da informação e comunicação do Tribunal.

Avanços

Apesar de desafiadora, essa prática tem rendido ao TST avanços inéditos. “As interações que temos tido, por exemplo, não são mais focadas especificamente no produto, mas no processo de trabalho. Ao final, a transformação digital tem que ser dada no dia a dia, em diversas áreas. Então setores como desenvolvimento, infraestrutura e atendimento, tudo isso tem sido impactado”, destaca Fabiano Lima.

Um exemplo concreto desse impacto consiste na preocupação dos desenvolvedores em conceber o Potius como acessível a todas as pessoas, atendendo a 100% das normas e condições de acessibilidade. Além disso, a ferramenta, cujo desenvolvimento foi iniciado no segundo semestre de 2022, não vai ao ar enquanto não for totalmente validada por seus futuros usuários.

Outro exemplo acontece em nível institucional. Com a nova forma de produção, a força de trabalho tanto dos residentes como dos membros do setor de TI do TST foi reestruturada: 70% para atendimento de demandas que já existiam antes da Residência do IMD e outros 30% para as atividades de inovação e descobertas.

Esse novo paradigma possibilitou, inclusive, a criação de uma Coordenadoria de Qualidade de Serviços em Tecnologia da Informação, a qual conta com um núcleo especializado em ações de experiência do usuário, o Nexus.

Essa organização foi fundamental para o Tribunal concretizar no serviço público o que antes era apenas um anseio por inovação e que, apesar de presente na equipe de TI do TST, nunca antes fora possível, dada a quantidade de demandas do órgão de justiça em detrimento do seu número de colaboradores.

“É expressiva a mudança do antes e depois, pois se antes o que havia era apenas uma preocupação com inovação, hoje nós temos a capacidade de responder a essas motivações por meio de uma metodologia apropriada e com boas práticas de prototipação”, explica Lima.

No âmbito do ensino e aprendizagem, o processo de experimentação se tornou uma realidade constante no Tribunal, tanto para os servidores como para os próprios alunos residentes do IMD.

“Não fomos simplesmente incluídos na rotina de trabalho do setor de TI do Tribunal, nos colocaram como atores de um processo de inovação da instituição. Ou seja, além do desenvolvimento, participamos de pesquisas, prototipação, testes e entrevistas com advogados de todo o Brasil. Estou realmente empolgado por participar de tudo isso”, comenta Hugo Oliveira, estudante residente no TST.

Boas práticas

Segundo a professora Iris Pimenta – coordenadora da turma de Residência junto ao tribunal –, a receita para alcançar os resultados do programa junto ao TST prevê tanto boas práticas de UX como de Desenvolvimento Ágil. Este último elemento é uma abordagem totalmente voltada a resultados, que potencializa questões como criatividade, inovação e flexibilidade.

No caso da residência junto ao TST, a aplicação dessas metodologias de trabalho foi encorajada especialmente durante a disciplina de Inovação Tecnológica, em que os estudantes, ao receberem um desafio real, devem aplicar os conceitos aprendidos durante as aulas.

“Ao final da disciplina, os alunos esquematizaram todo o processo de desenvolvimento, entrevistaram usuários e criaram protótipos. O resultado desse trabalho foi apresentado durante um workshop em Brasília e, quando os gestores perceberam os ganhos proporcionados por UX, optaram por esse caminho”, conta Iris Pimenta.

A partir daí, o trabalho da residência segue sempre ancorado na escuta atenta dos usuários, de modo a permitir até a antecipação de demandas. “Nunca se ouviu, registrou e se refletiu tanto como agora e tudo está interligado ao processo de desenvolvimento no TST, nada acontece isoladamente”, destaca a docente.

Residentes do TST reunidos no IMD. Aulas e atividades de desenvolvimento acontecem em regime remoto
Turma do TST reunida no IMD. Aulas e atividades de desenvolvimento acontecem em regime remoto

“Esse é um processo que apenas começou. Na verdade, estamos contribuindo para amadurecer o entendimento dos desafios e, junto com a universidade, colaboramos com o cenário de desenvolvimento tecnológico do Brasil. É disso que tudo isso se trata, no final”, afirma Fabiano Lima.

Esse planejamento também rendeu a produção de um artigo científico sobre inovação aberta para o setor judiciário brasileiro. O estudo foi publicado nos anais da Call for Innovation 2022 – chamada pública promovida pelo Centro de Inovação Pública dos Emirados Árabes Unidos e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Visão ampliada

Segundo a professora Iris Pimenta, os estudantes residentes envolvidos nesse processo de inovação recebem uma formação com visão ampliada, cujas atividades, mesmo as de desenvolvimento de programação, não se restringem à ferramenta em si, mas passam a considerar o ser humano envolvido no processo.

“Claro que temos perfis variados de profissionais. Existem os alunos que gostam de UX e outros que contam com um perfil mais técnico. Ainda assim, temos percebido algumas mudanças na fala de pessoas que antes não enxergavam a importância da experiência do usuário e hoje percebem como isso ajuda no desenvolvimento de um produto bem pensado, estruturado e de maior validade”, comenta Pimenta.

Inaugurada em 2022, no formato a distância, a residência do TST conta hoje com 11 alunos. Já tendo cumprido todas as disciplinas teóricas, atualmente os alunos trabalham seis horas diárias, destinadas exclusivamente às atividades práticas – organizadas segundo os preceitos do Desenvolvimento Ágil.

Quanto ao Potius, o prazo para a entrega final (e encerramento oficial da turma) é dezembro deste ano. Após ser validado por um público cada vez maior, o novo software deverá, por fim, ser lançado no marketplace da Plataforma Digital do Poder Judiciário (PDPJ-Br), o que possibilitará sua evolução ou adoção por outros Tribunais do sistema judicial brasileiro.